Consuelo de Paula. Foto de f.cabral |
A cantora e compositora mineira Consuelo de Paula faz show de
pré-lançamento de seu novo CD, Maryákoré, no Centro Cultural Casarão, em Barão Geraldo - Campinas, SP, integrando
a programação do projeto Primavera da
Canção.
O espetáculo acontece
no dia 11 de outubro, sexta, às 20
horas. E os ingressos são contribuições espontâneas no chapéu.
Consuelo (voz, violão
e percussão), acompanhada por Carlinhos Ferreira (percussão), interpreta, além
do repertório de Maryákoré, o catimbó
“Tupinambá” (D.P.), um canto dos
índios Kiriris e músicas dos seus discos anteriores que ‘conversam’
esteticamente com o novo trabalho. O cenário do show, criado por Marli
Wunder e Alik Wunder, coloca o
som de Consuelo de Paula e Maryákoré em
sintona com o charme do Casarão.
O Primavera da Canção acontece entre os dias 4 e 25 de
outubro, sempre às sextas, às 20h, com curadoria e produção de João Arruda.
Maryákoré
O sétimo disco da
carreira de Consuelo de Paula é uma obra provocadora naquilo que tem de mais feminina, mais negra, mais
indígena e mais reveladora de nós mesmos. O título pode ser entendido como uma nova
assinatura de Consuelo de Paula: maryá (Maria é o primeiro nome de Consuelo),
koré (flecha na língua paresi-haliti, família Aruak), oré (nós em tupi-guarani)
e yakoré (nome próprio africano).
Além de assinar letras e músicas - tendo
apenas duas parcerias, uma com Déa Trancoso e outra com Rafael Altério -,
Consuelo é responsável pela direção, pelos arranjos, por todos os violões e por
algumas percussões de Maryákoré (caixa
do divino, cincerro, unhas de lhama, entre outros). A harmonia entre Consuelo e
sua música, sua poesia, sua expressão e a estética apresentada é nítida nesse
CD. Ao interpretar letras carregadas de imagens e sensações, ao dedilhar os
ritmos que passam por Minas Gerais e pelos sons dos diversos “brasis”, notamos
a artista imersa em sua história: ela traz a vida e a arte integrada às canções.
Segundo
Consuelo, desde o nome, o trabalho “traduz uma arte guerreira e amorosa, que se
alimenta da força dos ventos, das brisas e das tempestades; nasceu entre o dia
e a noite, entre a cidade e as matas, entre raios e trovões”. Essas energias,
movimentos e gestos de amor e de luta, estão condensados nas músicas, nos
arranjos e na voz da cantora e compositora, de modo a reafirmar a fisionomia
vigorosa de uma artista inquieta, de expressividade singular e força criativa
que se renova a cada trabalho.
O violão é seu instrumento de composição que,
nesse trabalho, revela-se também, de maneira ousada e criativa, como parte de
seu corpo; e como koré provoca
as composições ao mesmo tempo em que comanda e orienta os ritmos que dão
originalidade à obra. Consuelo gravou juntos o violão e a voz, ao vivo, no
estúdio Dançapé do músico Mário Gil, transpondo para o disco a naturalidade e a
energia original das canções. Um desafio que pode ser conferido em cada uma das
dez faixas: ora o violão silencia as cordas para servir de tambor, ora se
ausenta para deixar fluir a voz à capela; em outros momentos as cordas produzem
somente um pizzicato para acompanhar o movimento da melodia; e, às vezes,
soa como percussão e instrumento harmônico. Tudo ao mesmo tempo.
Além do violão, um piano e vários
instrumentos percussivos compõem a sonoridade de Maryákoré. Consuelo conta com o percussionista Carlinhos
Ferreira para produzir paisagens e novos sons com instrumentos criados por ele, como goopchandra com arco,
flautas de tubos, rabeca de lata, tambor de mar, gungas de sementes e outros. O
piano de Guilherme Ribeiro enriquece esse cenário ao fazer destacar na obra,
utilizando suavidade e desenhos sonoros, os contrastes imaginados por Consuelo.
O CD é apresentado em dois movimentos. Da
mesma maneira que assistimos a um bom filme, acompanhar o roteiro de Maryákoré
é uma experiência surpreendente. “São gestos, ventos que impulsionam ciclos,
são lutas internas e externas que foram trazendo o disco e apontando o rumo das
canções”, revela Consuelo. Maryákoré é uma guerreira em meio às batalhas
cotidianas pela vida e pela arte, é uma obra-síntese da dedicação da artista, de
sua fina sensibilidade musical, poética e social. É a voz de Consuelo de Paula
frente aos desafios dos nossos tempos.
O primeiro movimento começa com “Ventoyá” (poesia de Déa Trancoso, que
Consuelo musicou logo na primeira leitura). Consuelo abre o disco batucando no
violão, trazendo um clima de ventos e tempestades que anunciam uma nova
estação. Na sequência ouvimos o piano, o violão e a percussão que revelam a nova
textura sonora, feita para a canção “Andamento”. Consuelo a compôs quando viu um
instrumento feito por índios brasileiros (pau de chuva) e se lembrou de um
verso do terno dos marinheiros de sua cidade natal (Pratápolis, MG): “eu vou,
eu vou remando contra a maré”. Aqui ela cita também um verso do poeta Paulo
Nunes (“o uivo perdido no meio da floresta, passados mil anos, virou esse canto”)
e acrescenta: “um grito que a noite me empresta / um fado cigano / um índio, um
banto / na voz que me resta / que por uma fresta / vazou nesse canto”. É clara
a poesia contrastante da artista que traduz a comoção pelo belo. E o trio de aberturas se faz com a
próxima canção: “Chamamento”- em um
clima de capoeira que Consuelo realiza com o seu toque de violão-berimbau. A
cantora criou um arranjo crescente, um a um os instrumentos entram - flauta de
tubos, violão, piano, rabeca de lata (criada por Carlinhos Ferreira), caxixis,
unhas de lhama (instrumento indígena e andino), triângulo, pandeiro e caixa do
divino. É um grito de guerra, uma
convocação: “vai chamar meu povo / o pajé, o capoeira / as senhoras, as
meninas / ... / vai chamar o sol mais quente / a lua cheia, a ventania, o
trovão fora de hora / o raio e a nossa alegria / ... /”.
Com seu violão harmônico e percussivo,
Consuelo traz na quarta faixa a canção homônima ao CD, “Maryákoré”: “Sou
a fumaça que sobe na mata na hora mais quente / a fogueira no quintal da minha
gente / sou maryákoré, katxerê, marielle da maré / sou a lua, a luta e os
nossos olhos brilhando horizontes”. E no final Consuelo cria um outro ambiente
no qual cita Tom Jobim (“deixe o índio vivo”) e um ponto de candomblé. A canção
“Separação” encerra o primeiro
movimento. É a música da ausência, do silêncio. O violão em pizzicato é
perfeito para o sentimento que a canção nos causa. “Esse é um poema meu, que
redescobri durante o processo do disco, e musiquei”, conta Consuelo.
Abrindo o segundo movimento de Maryákoré, “Caminho de Volta” traz Consuelo cantando à capela, anunciando um recomeço
com um canto limpo e forte: “avistei grande búfalo do oriente / travessei o mar
/ ... / morte não vai me matar / longe do meu lugar”. É um moçambique, ritmo
afro-mineiro (compasso em seis por oito) de forte presença nas origens da
música de Consuelo de Paula. O álbum segue com “Arvoredo” que traz o clima das paisagens mineiras: “minha casa é
madeira, tronco, galho e raiz / minha casa é cordilheira / fiz pra gente ser
feliz / ... /”. E aqui ela constrói ‘nossa casa’ ao lado de várias tribos (kariris,
puris, guaranis, kiriris). Essa é mais uma composição na qual mostra sua forma
particular de respirar, cantar e tocar ritmos, que quando ouvimos já sabemos
que se trata de Consuelo de Paula. “Os
Movimentos do Amor” é um samba de Consuelo tocado
com caixa de congo e berimbau. Traz uma harmonia rica que passa pela sonoridade
mineira mais urbana. Na abertura, um poema dela entre notas suaves de piano e
berimbau: “o amor é o som do seu nome / o rastro que fica quando você some / a
alga verde que o mar come entre brancas ondas / pra depois matar a fome do
peixe e do homem”.
A nona faixa, “Remando Contra a Maré” (melodia de Rafael Altério, letrada por
Consuelo), conversa com a segunda abertura do CD - “Andamento” - por meio do canto dos congadeiros: “eu vou, eu vou
remando contra a maré” (aqui apresentado no final da canção). Impossível não se
emocionar com essa bela toada. “Saudação”
encerra o segundo movimento do CD
e traz, ao mesmo tempo, a despedida e a abertura para um recomeço: “Vou
saudar a gira do tempo / ogunhê meu pai / vou cantar despedida / ... / e com o olhar cruzado no teu / abrirei
caminho / noite afora, noite adentro / até que o sol retorne da casa de Lia /
com o cheiro da terra que nossos olhos não alcançam / com aromas de um novo
dia”. E, conversando com a terceira faixa de abertura do CD - “Chamamento” - Maryákoré
termina com o contagiante violão percussivo de Consuelo de Paula, como uma
energia que nos visita, como um ciclo que se fecha e se abre no tempo.
Lançamento/CD:
Maryákoré
Artista:
Consuelo de Paula
Distribuição:
Tratore. Ano: 2019. Preço sugerido: R$ 35,00
Disponível
em todas as plataformas digitais / Teaser:
Maryákoré
Serviço
Show:
Consuelo de Paula
Projeto:
Primavera da Canção
Data:
11 de outubro. Sexta, às 20h
Local:
Centro Cultural Casarão
Rua
Maria Ribeiro Sampaio reginato, s/n. Barão Geraldo. Campinas/SP
Ingressos
no Chapéu – Retirar 1h antes do show. Livre.
Duração:
70 min. Capacidade: 130 lugares. Informações: (11) 99904-6777
Assessoria de imprensa - VERBENA COMUNICAÇÃO
Eliane Verbena / João Pedro
Tel: (11) 2738-3209 /
99373-0181 - verbena@verbena.com.br
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