quarta-feira, 8 de maio de 2024

As Aves da Noite, drama de Hilda Hilst dirigido por Hugo Coelho estreia no Teatro Cacilda Becker

Marat e Pâmio (foto de Priscila Prade)

O espetáculo As Aves da Noite, drama teatral escrito por Hilda Hilst, há 55 anos, vencedor do Prêmio APCA de Melhor Espetáculo Virtual, em 2022, faz sua estreia oficial no dia 24 de maio de 2024, sexta-feira, no Teatro Cacilda Becker, às 21h. A encenação, que se passa em Auschwitz, tem direção de Hugo Coelho e elenco formado por Marco Antônio Pâmio, Marat Descartes, Regina Maria Remencius, Rafael Losso, Walter Breda, Fernando Vítor, Marcos Suchara, Wesley Guindani e Heloisa Rocha.

As apresentações no Teatro Cacilda Becker vão até o dia 2 de junho, às sextas e aos sábados, às 21h, e aos domingos, às 19h. Na sequência, segue para o Teatro Arthur Azevedo (6 a 16/06) e Teatro Paulo Eiró (20 a 30/06), além de sessões nos CEUs Cidade Dutra e Alvarenga, sempre com ingressos gratuitos. Este projeto foi contemplado pela 17ª Edição do Prêmio Zé Renato, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

O enredo de As Aves da Noite parte da história real do padre franciscano Maximilian Kolbe que, em um campo de concentração nazista de Auschwitz, apresentou-se voluntariamente para ocupar o lugar de um judeu sorteado para morrer no chamado “porão da fome” em represália à fuga de um prisioneiro. Segundo o diretor Hugo Coelho, “esta é uma versão contemporânea do texto de Hilda. Não é uma reconstituição de Auschwitz, partimos de Auschwitz. O espetáculo é um grito contra a barbárie, contra o fascismo que usa a violência como instrumento de ação política”.

No porão da fome, a autora coloca em conflito os prisioneiros condenados a morrer na cela: o Padre, o Carcereiro, o Poeta, o Estudante e o Joalheiro, que são visitados pelo Oficial da SS, pela Mulher que limpa os fornos e por Hans, o ajudante da SS. Na montagem, eles aparecem isolados, confinados em gaiolas como um signo, uma alusão à prisão onde a história se passa. “A primeira coisa que os governos totalitários e ditatoriais fazem ao prender alguém é destituí-lo de sua dignidade e submetê-lo ao sofrimento extremado, e isso os nazistas fizeram com requintes inimagináveis de crueldade”, comenta o diretor.  Segundo ele, a proposta de concepção de Hilda Hilst é muito clara, colocando as personagens em estado de reflexão sobre suas próprias condições no confinamento. A leitura que a autora faz dos aspectos éticos e humanos passam por questionamentos sobre Deus, sobre o mal e sobre a crueldade.

Nos diálogos estão o embate entre a vida e o que lhes resta, os devaneios entre o desespero e o delírio. O Poeta declama como se morto estivesse, o Estudante sonha com outro tempo, o Joalheiro ainda lembra-se da magnitude das pedras, enquanto a Mulher é humilhada em sua condição inferior. O Carcereiro, mesmo sendo um condenado, ironiza a condição dos demais e os trata com escárnio; o SS os chama de porcos e os agride e menospreza, enquanto o estado de debilidade emerge da vida e da já não existência desses humanos subjugados.

A montagem de As Aves da Noite busca elucidar a humanidade e densidade contida no texto, mergulhando nas possibilidades inesgotáveis do drama para emergir na poética da tragédia. “O discurso racional não dá conta da realidade. A arte tem o papel de traduzir esse discurso como uma segunda realidade que passa pela razão, mas também pelo sensorial e pela emoção”, reflete Hugo Coelho. “E temos a sorte de reunir um elenco de extrema grandeza. O talento desses atores é um pilar fortíssimo no resultado final do trabalho”.

Sobre o texto, Hilda Hilst falou: “Com As aves da noite, pretendi ouvir o que foi dito na cela da fome, em Auschwitz. Foi muito difícil. Se os meus personagens parecerem demasiadamente poéticos é porque acredito que só em situações extremas é que a poesia pode eclodir viva, em verdade. Só em situações extremas é que interrogamos esse grande obscuro que é Deus, com voracidade, desespero e poesia”.

O cenário, que traduz o cárcere com gaiolas humanas, foi concebido pelo diretor. O figurino (de Rosângela Ribeiro) faz alusão aos uniformes de presidiários, reforçando a imagem do encarceramento. A iluminação (de Fran Barros) dá foco a cada personagem, reforça o clima denso e claustrofóbico do ambiente, privilegiando o espaço teatral, “afinal a visão do espectador é diferente da visão do telespectador”, diz o diretor reportando à temporada virtual.  A trilha sonora, assinada por Ricardo Severo, traz uma canção original do texto que remete à tradição judaica, cantada pelas personagens, e segue a mesma orientação da iluminação: “não faria sentido apenas reproduzirmos o que fizemos no vídeo, pois agora estamos no palco, que tem a sua dinâmica e necessidades próprias. Quem viu a peça online e for assistir no teatro vai encontrar cenas e tratamentos diferentes, inclusive com introdução de novos elementos”, explica o diretor.

Hugo Coelho afirma que o propósito do espetáculo é trazer à cena o discurso poderoso e contundente de Hilda Hilst. “As Aves da Noite nos faz encarar toda a barbárie do poder, do domínio, do autoritarismo, das torturas nos porões das ditaduras. Auschwitz é uma ferida aberta na humanidade para a qual é difícil encontrar palavras que a qualifique. As Aves da Noite mostra o reverso, o outro rosto da humanidade, perverso, doente e profundamente violento. Não podemos permitir que a violência e a barbárie continuem sendo normatizadas ao longo da história. Por isso essa obra, de extrema qualidade literária, é tão importante para o momento em que vivemos”, finaliza o encenador.

As Aves da Noite, idealizado pelo produtor Fábio Hilst, teve sua primeira temporada apresentada virtualmente, devido à pandemia da covid-19. Foi gravado em vídeo, 80 anos após a morte de Maximilian Kolbe, exatamente no momento em que o mundo vivia uma experiência de confinamento. Kolbe morreu em Auschwitz, em 1941, e foi canonizado em 1982, pelo Papa João Paulo II. São Maximiliano é considerado padroeiro dos jornalistas e radialistas e protetor da liberdade de expressão.

FICHA TÉCNICA - Texto: Hilda Hilst (1968). Direção: Hugo Coelho. Elenco: Marco Antônio Pâmio (Pe. Maximilian), Marat Descartes (Carcereiro), Regina Maria Remencius (Mulher), Walter Breda (Joalheiro), Rafael Losso (Estudante), Fernando Vítor (Poeta), Marcos Suchara (SS), Wesley Guindani (Hans) e Heloisa Rocha. Direção de produção: Fábio Hilst. Assistência de direção e de produção: Fernanda Lorenzoni. Cenografia: Hugo Coelho. Figurino e objetos de cena: Rosângela Ribeiro. Desenho de luz: Fran Barros. Música original e desenho de som: Ricardo Severo. Cenotecnia: Wagner José de Almeida. Serralheria: José da Hora. Pintura de arte: Alessandra Siqueira. Assistência de cenotecnia: Matheus Tomé. Confecção de figurino: Vilma Hirata e Natalia Hirata. Fotos/divulgação: Priscila Prade e Heliosa Bortz. Design gráfico: Letícia Andrade. Gerenciamento de mídias sociais: Felipe Pirillo. Assessoria de imprensa: Eliane Verbena. Realização: Três no Tapa Produções Artísticas. Apoio: Prêmio Zé Renato - 17ª Edição, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Serviço

Espetáculo: As Aves da Noite
Duração: 75 min. Gênero: Drama. Classificação: 16 anos.
Ingressos: Gratuitos - Bilheterias dos teatros: 1h antes das sessões.
Ingressos antecipados: Sympla - www.sympla.com.br.

Teatro Cacilda Becker
De 24 de maio a 2 de junho - Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 19h.
Rua Tito, 295 - Lapa. São Paulo/SP.
Tel.: (11) 3864-4513. Capacidade: 198 lugares.
26/05 (domingo) - Intérprete de Libras, audiodescrição e bate-papo com o público.

Teatro Arthur Azevedo
De 6 a 9 de junho - Quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h.
De 14 a 16 de junho - Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h.
Av. Paes de Barros, 955 - Alto da Mooca. São Paulo/SP.
Tel.: (11) 2604-5558. Capacidade: 349 lugares.
09/06 (domingo) - Intérprete de Libras, audiodescrição e bate-papo com o público.

Teatro Paulo Eiró
De 20 a 23 de junho - Quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h.
De 28 a 30 de junho - Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h.
Avenida Adolfo Pinheiro, 765 - Santo Amaro. São Paulo/SP.
Tel.: (11) 5546-0449. Capacidade: 467 lugares.
23/06 (domingo) - Intérprete de Libras, audiodescrição e bate-papo com o público.

Perfis

Hilda Hilst (1930-2004, Jaú/SP) – Hilda Hilst foi ficcionista, cronista, dramaturga e poeta, considerada uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX, com traduções em países como Itália, França, Portugal, Alemanha, Estados Unidos, Canadá e Argentina. Iniciou sua produção literária em São Paulo, com o livro de poemas Presságio (1950). Em 1965, mudou-se para Campinas e iniciou a construção de seu porto de criação literário, a Casa do Sol, espaço que a abrigou durante a realização de 80% de sua obra. Autora de linguagem inovadora, na qual atemporalidade, realidade e imaginação se fundem, a estreia de Hilda na dramaturgia foi em 1967 e, três anos depois, na ficção com Fluxo-floema. Em cerca de 50 anos, ela escreveu mais de 40 títulos, muitos com edições esgotadas, incluindo poesia, teatro e ficção, que lhe renderam prêmios literários importantes no Brasil. Em sua obra nos deparamos com a fragilidade humana que nos surpreende com personagens em profundos questionamentos na viagem de entender e descobrir o essencial. A partir dos anos 2000, a Globo Livros reeditou sua obra completa e, em 2016, os direitos de publicação foram para a Companhia das Letras. Mais recentemente, a L&PM Editores lançou em livro toda a sua dramaturgia. O acervo deixado pela escritora encontra-se na Sala de Memória Casa do Sol e no Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio da Unicamp.

Hugo Coelho (diretor) - Formado em filosofia, Hugo é ator e diretor com mais de 45 anos de carreira. Em 2015, comemorou 40 anos de profissão com a direção de Morte Acidental de um Anarquista, de Dario Fó. No teatro, recentemente, dirigiu À Espera, de Sérgio Roveri; adaptou e dirigiu O Monstro, a partir do conto homônimo de Sérgio Sant’Anna, com Genézio de Barros; dirigiu (Selvagens) Homem de Olhos Tristes, de Händl Klaus; as comédias Me Segura Senão eu Pulo, de Luiz Carlos Cardoso, e Hoje Tem Mazzaropi, de Mário Viana; Retratos, de William Douglas Home; Os Jogadores, de Nikolai Gogol; a ópera Treemonisha, de Scott Joplin; O Contrabaixo, de Patrick Suskind; Meu Primo Walter, de Pedro Haidar; e Quem Casa quer Casa, de Martins Penna. Foi assistente de direção na montagem de Morte Acidental de um Anarquista, com direção de Antonio Abujamra e protagonizada por Antonio Fagundes. Na TV, dirigiu os programas Jornal do Estudante, Brasil Corpo e Alma e o Telecurso Segundo Grau na TV Globo; a novela Cortina de Vidro, de Walcyr Carrasco, no SBT; e o programa de entrevistas Terceiro Milênio, na Rede Mulher e na Rede Vida.

Informações à imprensa: VERBENA ASSESSORIA
Eliane Verbena
Tel: (11) 99373-0181- verbena@verbena.com.br

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