terça-feira, 11 de outubro de 2016

Theresinha, com Gabriela Cerqueira, a partir dos escritos de Thérèse de Lisieux, faz curta temporada no Mosteiro de São Bento

Gabriela em foto de Thiago Bugallo
Dirigida por Helder Mariani, a peça conta a história da jovem Thérèse de Lisieux que ficou conhecida popularmente como Santa Teresinha. A montagem fica em cartaz até o final de novembro com apresentações aos domingos, às 18h.

O espetáculo Theresinha foi concebido a partir dos escritos autobiográficos e poéticos da jovem francesa Thérèse de Lisieux (1873-1897), freira carmelita descalça, canonizada em tempo recorde pela Igreja Católica. No Brasil, é popularmente conhecida como Santa Teresinha do Menino Jesus.

A peça - que tem dramaturgia e encenação assinadas por Helder Mariani e interpretação de Gabriela Cerqueira - reestreia no dia 6 de novembro (domingo, às 18 horas) no Teatro do Mosteiro de São Bento de São Paulo.

A montagem faz uma radiografia do dilema do homem moderno – o conflito entre a razão e a fé, na pele de Theresinha, não privilegiando a dimensão puramente religiosa, mas a dimensão humana dessa jovem mulher que virou santa, e que, no final do séc. XIX, vivenciou as questões e contradições que marcariam o séc. XX e a pós-modernidade.

A encenação de Helder Mariani apresenta a personagem através de uma jovem atriz, sozinha. A atriz conduz a plateia até o século XIX, na França, e nos traz a jovem freira, sozinha; ambas diante do mesmo vazio. Essas duas jovens mulheres de épocas tão diferentes têm em comum a ânsia da busca pelo sentido da existência humana e o desejo compulsivo de transformar a realidade vazia de sentido. São buscas humanas num tempo onde um racionalismo exacerbado e prepotente domina – e já dominava no XIX - nossas cabeças.

Segundo o dramaturgo, “Thérèse de Lisieux” entendia a espiritualidade e a arte como únicas formas possíveis de subverter a realidade humana, dando-lhe um novo significado, transcendendo. Na dramaturgia, criada em parceria cênica com a atriz Gabriela Cerqueira, Theresinha recebe os espectadores para uma visita reservada, onde cada gesto, cada olhar, cada expressão revela o que ela esconde no coração, a sua noite escura. Ela conta sua história, valendo-se das palavras e do teatro; e representando de maneira crítica e bem humorada os personagens que aparecem na sua trajetória. Na cena, Theresinha vai revelando as suas diferentes e ambíguas facetas, e seu desejo obsessivo de se tornar uma “santa”.

No palco despojado, a atriz conta apenas com seus próprios recursos físicos e vocais. A encenação de Theresinha é despida de qualquer cenografia. Gabriela Cerqueira dispõe somente de um singelo e pequeno banco de madeira para revelar o temperamento intrigante desta jovem que viveu apenas 24 anos, e que hoje é considerada uma das “santas” mais influentes da modernidade. Sobre a trilha sonora, Dagoberto Feliz argumenta que ela propõe uma ambientação silenciosa e supostamente serena, “como um réquiem da nossa Theresinha, um dejavu da sonoridade externa desse Romantismo tardio na tentativa de interiorizar para escutar a sua própria voz”. A iluminação (Gabriel Greghi) segue a intensidade da personagem, na medida em que Theresinha se permite ser vista ou fica reclusa: ora luz, ora sombra, ora sombra em decorrência da incidência de luz. “Criamos uma imagem em constante movimento, uma luz que respira e que é mutável, que transborda de Theresinha e se espalha pelo ambiente”, explica Greghi.

Sobre o intuito da montagem, a atriz Gabriela Cerqueria diz: “Como vem acontecendo nestes dois anos de apresentações, queremos que esta obra continue encontrando públicos diversos, espaços diferentes, multiplicidade. Que seja provocativa. Não pretendemos defender ou acusar Thérèse, mas prestar uma homenagem”. 

Pesquisa e trajetória

Para realizar este espetáculo, uma ampla pesquisa histórica foi realizada pelo professor de direito e advogado Thiago Britto e pelo ator e professor de filosofia Helder Mariani. Foram cinco anos, reunindo pesquisas de campo em Lisieux (pequena cidade onde Thérèse viveu, na Baixa Normandia, norte da França), e imersão em amplo material bibliográfico, fonográfico, literário e artístico (peças de teatro, filmes, romances). Entre os registros de Thérèse de Lisieux estão três cadernos autobiográficos, mais de 250 cartas, 50 poesias, 20 orações e oito peças teatrais. Seu acervo inclui ainda pinturas, pequenos cartões, roupas, objetos pessoais e mais de 20 fotografias.

Theresinha estreou em 2014, em São Paulo, na Casa das Rosas, Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, onde cumpriu três temporadas, sendo a última no final de 2015. Outra temporada ocorreu no centenário Colégio Santa Inês (Bom Retiro), além de apresentações em outros locais da cidade de São Paulo, como o Teatro das Edições Paulinas, igrejas, mosteiros, museus e colégios. O espetáculo também foi apresentado no interior do estado - em Barretos, Ribeirão Preto, Taboão da Serra, Osasco, Itapecirica da Serra, Aparecida (várias vezes) e Vinhedo - e também nas capitais Curitiba (PR) e Belo Horizonte (MG).

Ficha técnica / serviço

Espetáculo: Theresinha
Atriz: Gabriela Cerqueira
Dramaturgia e encenação: Helder Mariani
Direção musical: Dagoberto Feliz
Desenho de luz: Gabriel Greghi
Cenografia: Flávio Tolezani
Figurino: Marcela Donato
Pesquisa: Thiago Britto
Orientação artística: Denise Weinberg
Produção: Gabriela Cerqueira e Helder Mariani.
Fotos: Thiago Bugallo e Luciney Martins
Realização: Cia. da Palavra e Pulo do Gato Produções Artísticas

Reestreia: 6 de novembro – Domingo, às 18h
Teatro do Mosteiro de São Bento de São Paulo
Largo de São Bento, s/n. Centro/SP. Metrô São Bento. Tel: (11) 3328-8799.
Temporada: 6 a 27 de novembro – domingos, às 18h
Ingressos: R$ 30,00 (meia: R$ 15,00). Aceita dinheiro, cheque e cartão de débito.
Gênero: Drama. Duração: 60 min. Classificação: 12 anos
Informações/espetáculo: (11) 97283-2727. Capacidade: 290 lugares
Acessibilidade. Não possui estacionamento.


PERFIS

Helder Mariani

No teatro, é ator, encenador e dramaturgo. No Grupo Folias, participou como ator dos dois espetáculos: Folias Galileu e Folias D’Arc, dirigidos por Dagoberto Feliz. Desde 2005, encena e atua em vários projetos poético-teatrais na Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, sendo os últimos espetáculos apresentados naquela Casa: A Casa É Sua! Caos de Poesias, de 2014, Cabaré Falocrático, de 2015, e Theresinha, 2014 e 2015. Como ator, atuou também na Cia. As Graças (Noite de Reis, direção de Marco Antonio Rodrigues), no Centro Cultural Silvio Santos (A Flauta Mágica, direção de Roberto Lage), Teatro Fábrica (Os Pequenos Burgueses, direção de Roberto Rosa). E ainda nos espetáculos Malkhut, direção de Denise Weinberg, Cartas ao Futuro, direção de Eduardo Coutinho, Os Cafundó e Flores Sertanejas, direções de Francisco Bretas, entre outros. Atualmente, como ator: Os Jecas, (da Cia. da Palavra, premiado como melhor espetáculo pelo júri popular do 43º Fenata, Festival Nacional de Ponta Grossa-PR), Single Singers Bar (Produção de Nossa Senhora da Produção) e Vinícius, de Vida Amor & Morte (Cia. Coisas Nossas), com direções de Dagoberto Feliz; como assistente de direção: Hamlet ao Molho Picante; e encenador: Theresinha e A lucidez Alucina, Poemas de Orides Fontela. Como dramaturgo, escreveu Devaneios do Bárbaro Solitário (Proac de dramaturgia inédita 2011), sobre os filósofos franceses Rousseau e Voltaire; Theresinha, a partir dos escritos de Santa Thérèse de Lisieux; e agora assina as dramaturgias de Os Jecas e Cabaré Falocrático. Educador com formação em Direito, Filosofia, Pedagogia, Psicodrama e Teatro. É professor de filosofia e teatro, com trabalhos em várias instituições de ensino e do meio organizacional. Mestre em Filosofia pela PUC-SP, com o título: A Mentira-Verdade do Ator. Hoje, doutorando pela PUC-SP com a pesquisa: O Ator Iluminista.

Gabriela Cerqueira

Gabriela Cerqueira é atriz, formada pela EAD/Escola de Arte Dramática da USP. Integrante fundadora do Grupo 59 de Teatro que tem em seu repertório as peças: O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, direção Cristiane Paoli Quito, Mockinpó - Estudo Sobre um Homem Comum, direção Claudia Schapira, A Última História, direção Tiche Viana, e Terra à Vista, direção Fabiano Lodi. Atuou nos espetáculos: O Sonho de Jerônimo da Fabulosa Companhia; Navalha na Liga, do projeto Poeta em Cena dirigido por Helder Mariani; no musical Flores Sertanejas, direção de Francisco Bretas; AvoarO Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, ambos sob direção de Vladimir Capella. Na teleisão, atuou nas minisséries O Negócio (HBO, duas temporadas); Morando Sozinho (Multishow – três temporadas); Som e Fúria (Rede Globo); Descolados (MTV); no quadro Super Sincero, do Fantástico (Rede Globo); e nos curtas-metragens O Fim do Filme, direção de André Dib (melhor atriz no Cine PE – Festival do Audiovisual de Pernambuco), e O Jogo, direção de Pedro Coutinho (melhor atriz no 38º Guarnicê - Festival de Cinema / São Luiz do Maranhão).

Thérèse de Lisieux

Thérèse de Lisieux, nascida Marie-Françoise-Thérèse Martin, conhecida como Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, foi uma freira carmelita descalça francesa conhecida como um dos mais influentes modelos de santidade para católicos romanos e religiosos em geral por seu jeito prático e simples de abordar a vida espiritual. Thérèse recebeu cedo seu chamado para a vida religiosa e, depois de superar inúmeros obstáculos, conseguiu entrar para o Carmelo de Lisiex, em 1888, com apenas 15 anos de idade - algo inédito na época. Depois de nove anos de clausura, tendo ocupado funções diversas na comunidade das religiosas, ela passou seus últimos 18 meses mergulhada na chamada “noite escura da alma", uma espécie de deserto espiritual onde se experimenta o “silêncio de Deus” - falecendo de tuberculose com apenas 24 anos. O impacto de A História de uma Alma, conjunto de manuscritos autobiográficos publicados em vários idiomas e distribuídos um ano após sua morte, foi tremendo, e rapidamente fez dela uma das santas mais populares da igreja católica. O interesse em sua figura, porém, extravasou a dimensão religiosa católica de um culto ou de uma devoção, destacando-se como objeto de pesquisa e debates de psicanalistas, psiquiatras, historiadores, teólogos, poetas, dramaturgos, cineastas e filósofos; por apontá-la como referencial de uma jovem mulher que já no final do século XIX carregava em si as principais contradições do século XX e da pós-modernidade. 

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