segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Kiwi Cia. de Teatro apresenta Morro Como Um País

 
A Kiwi Companhia de Teatro apresenta a montagem Morro Como Um País, que dá continuidade ao trabalho de pesquisa desenvolvido com foco na reflexão política social e estética. Com direção de Fernando Kinas, a estreia acontece no dia 1º de março, sexta-feira, no Sótão do Teatro Grande Otelo, às 20 horas.
 
O espetáculo não segue um padrão formal de encenação; não há uma história com princípio, meio e fim. A Kiwi usou como referência o texto literário Morro Como Um País, escrito em 1978 por Dimitris Dimitriadis (nascido em 1944), que é um verdadeiro testemunho de como o povo grego viveu a “ditadura dos coronéis” (1967/1974).

A concepção de Fernando Kinas articula mais de 30 tableaux (cenas independentes) que, uma vez articulados pelo espectador, dão sentido ao trabalho. Morro Como Um País delineia quadros como em um jogo onde todos os presentes estão inseridos. O espaço alternativo onde acontece a encenação e uma referência a brincadeiras coletivas infantis, complementam o cenário deste jogo cênico, em que prazer e conhecimento se complementam.

Um dos objetivos da peça é colocar em foco a discussão sobre o “estado de exceção permanente”, definido pela suspensão de direitos mesmo em períodos de “normalidade democrática”. São situações em que a ilegalidade tem aparência legal. Outro objetivo é apresentar momentos históricos de especial tensão entre o desejo de transformação e justiça social e a violência praticada pelo Estado.
 
Com a intenção de inquietar o espectador, o trabalho se inspira e utiliza recursos tanto do teatro documentário como da matriz brechtiana, inpirando-se ainda na obra do diretor russo Meyerhold. O material retirado da realidade e empregado em cena é formado por relatos, matérias jornalísticas, depoimentos, imagens, canções, brincadeiras infantis, poemas, trechos de romances e letras de músicas.

Segundo o diretor, “não há carga emocional pela reconstrução psicológica, a contundência se dá mais pela informação narrativa do que pelos recursos dramáticos convencionais”. A atriz Fernanda Azevedo completa dizendo que “não temos as respostas para tudo, mas tentamos fazer as perguntas certas”. 

A música é usada com função dramatúrgica, a exemplo da música cigana (povo historicamente perseguido), dos clássicos de exaltação nacionalista durante a ditadura (Eu te amo meu Brasil etc.) e das músicas de protesto. A companhia trabalha com alguns conceitos na montagem, entre eles, o de cânone, figura musical que supõe um padrão de repetição (há um relógio em cena com mostrador e mecanismo invertidos) e desmontagem das personagens clássicas em favor do depoimento e da exposição de contradições, tanto na forma como no conteúdo do que é exposto cenicamente. A iluminação – assinada por Heloísa Passos, cineasta e diretora de fotografia em curtas e longas-metragens – é mais cinematográfica do que teatral, priorizando luzes frias.

O projeto do grupo, que existe há 15 anos, alia reflexão à experimentação estética. Isto tem relação com a trajetória de Fernando Kinas, que tem Doutorado em Teatro pela Sorbonne Nouvelle e Universidade de São Paulo. Uma longa pesquisa de cerca de oito meses foi desenvolvida para este trabalho, que incluiu viagem à Argentina para investigar processos autoritários na América Latina.

O projeto Morro Como Um País - A Exceção e a Regra, com duração de 14 meses, tem apoio do Programa de Fomento ao Teatro (Secretaria de Cultura da cidade de São Paulo) e inclui encontros, intervenções urbanas, seminários, apresentação da montagem anterior do grupo, Carne. Diversas organizações e movimentos sociais são parceiros do projeto, como o Coletivo Merlino, a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e a Comissão Estadual da Verdade. Haverá debates no final de apresentações (a agenda será divulgada oportunamente), evento sobre livro A Periferia Grita, do Movimento Mães de Maio e debate especial no dia 31 de março (data do golpe militar no Brasil).

Trabalho cênico: Morro Como Um País
Roteiro e direção geral: Fernando Kinas
Elenco: Fernanda Azevedo
Cenário: Júlio Dojcsar
Figurino: Maitê Chasseraux
Iluminação: Heloísa Passos
Pesquisa e música original: Eduardo Contrera e Fernando Kinas
Pesquisa e tratamento de imagens: Maysa Lepique
Assessoria e treinamento musical: Luciana Fernandes e Armando Tibério
Direção de produção: Luiz Nunes
Assistência de produção: Dani Embón
Programação visual: Paulo Emílio Buarque Ferreira e Camila Lisboa
Realização e produção: Kiwi Companhia de Teatro
Estréia: dia 1º de março – sexta-feira – às 20 horas
Teatro Grande Otelo (Sótão)
Alameda Nothmann, 233 - Campos Elíseos/SP - Tel: (11) 2307-0020
Temporada: sextas e sábados (20 horas) e domingos (19 horas) - Até 28/04
Ingressos: R$ 10,00 - Bilheteria: quarta a domingo (após 16h)
Gênero: Drama – Classificação etária: 14 anos – Duração: 95 min.
Não possui acesso universal - Aceita dinheiro e todos os cartões.
Ingressos antecipados: www.ingressorapido.com.br (4003-1212)
Estacionamento (interno) pela Al. Dino Bueno, 353: R$ 15,00. 

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