segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Teatro do Incêndio inaugura sede com espetáculo que evoca a sabedoria popular

O Teatro do Incêndio inaugura sua nova sede, no Bixiga, no dia 16 de setembro (sábado, às 20h) com a estreia do espetáculo A Gente Submersa, que tem texto e direção assinados por Marcelo Marcus Fonseca.

Esta é a primeira parte do trabalho de pesquisa do grupo sobre heranças e descaracterização da cultura e da sabedoria popular, pelo esquecimento das raízes que moldaram o ser brasileiro.

A montagem explora o que resta no cotidiano das pessoas dos ensinamentos populares, bem como da função social da dança e das festas tradicionais. Segundo o diretor, “em cena está a comida típica, o encontro, a música, a fé, o sincretismo. São elementos de celebração que se perdem no íntimo de pessoas que se ‘afogam’ nas cidades, imersas no conflito de viver ou cumprir a existência de forma burocrática”.

No enredo, vagando por um mundo apático, Lourdes (Gabriela Morato), Benedito Messias (Anderson Negreiro) e Fulozina (Elena Vago) são espíritos do interior do Brasil atrás de pessoas que os enxergue, enquanto distribuem afeto como trabalho. No caminho encontram uma comunidade formada por pessoas expulsas do convívio social, que resolvem levar a vida em festa. Aos poucos o sonho sucumbe à realidade.

A Gente Submersa reúne 23 artistas, entre atores e músicos que transitam pelo teatro, pela dança e por outras linguagens, amparados por composições originais e canções de domínio público. O figurino traz elementos de técnicas artesanais como renda filé, bordados, crochê e tricô, construindo memórias também nos corpos que ocupam o Teatro do Incêndio: um espaço em formato de arena triangular, mantendo as características arquitetônicas originais do local que tem sua própria história.

Marcelo Fonseca explica que, após realizar O Santo Dialético, peça sobre a perda da essência da formação do brasileiro, teve o desejo de trabalhar outro viés da nossa origem: como se deu a formação do brasileiro. “Fui buscar os saberes populares, as danças e as festas que vêm sendo esquecidas. A hereditariedade não nos é ensinada, está na genética. A necessidade de sobrevivência esconde o desejo de felicidade, tendo à frente o poder institucionalizado”. O dramaturgo ainda afirma que a peça ressalta que o importante são as pessoas, a observação do outro. “Não é o governo que transforma o mundo. São as pessoas! O espetáculo é uma celebração da vida, onde o profano e o sagrado estão em comunhão, pois a vida não é o cotidiano, não é o trabalho”, finaliza.

O enredo

O enredo de A Gente Submersa é conduzido três personagens, figuras alegóricas da sabedoria popular (Lourdes, Benedito Messias e Fulozina), que vivem uma fábula que se concretiza na cidade. São pessoas centenárias, velhos de espírito juvenil que atravessaram os tempos. Eles seguem pelo mundo, mas os lugares por onde passam e tudo o que vivem vai sendo apagado. Quando chegam à cidade se tornam invisíveis, ocupam um espaço, mas são expulsos pela polícia. Conduzidos por um velho vendedor de relógios, eles chegam a um lugar (quilombo), povoado por pessoas que fugiram da metrópole, onde são vistos e aceitos. O velho representa o tempo, a sabedoria e os ensinamentos dos mais velhos, dos nossos antepassados. Sem dinheiro, as pessoas do quilombo trocam conhecimentos, como aprender a ler e escrever desenhando letras com tintas nas mãos. Lourdes, Benedito e Fulozina ensinam cultura popular para os integrantes da comunidade que passa a viver em um calendário de festas (congada, maculelê, jongo). Mas o desmatamento chega e destrói o quilombo mostrando o ciclo sem fim da destruição.

O novo teatro

A esquina da Rua 13 de Maio com Rua Santo Antônio é a porta de entrada para o Bixiga. O famoso casarão, que tem sua fachada tombada como patrimônio histórico do município, abrigou a antiga Boate Igrejinha, frequentada por nomes como Dalva de Oliveira, onde a cantora Maysa fez sua última temporada e Grande Otelo realizou o show em comemoração aos seus 50 anos de carreira. Mais tarde, se tornou o Café Soçaite, um dos principais redutos da boemia paulistana dos anos 80.

A parede externa de entrada do Teatro do Incêndio tornou-se um grande painel com a inscrição de 376 nomes de artistas de real importância na história cultural. Entre os homenageados, Tom Jobim, Cacilda Becker, Plínio Marcos, Flávio Império, Mário de Andrade, Carolina de Jesus, Maysa, Geraldo Filme, Roberto Piva, José Celso Martinez Corrêa, Batatinha, Ariano Suassuna, Darcy Ribeiro, Antônio Cândido, Ruth Rachou, José do Patrocínio e Lygia Clark.

A sede própria é uma conquista de 21 anos de estrada do grupo. O espaço foi comprado por Marcelo Marcus Fonseca, em março de 2017, e consolida-se, definitivamente, como um teatro para a cidade de São Paulo.

Antes mesmo da inauguração, período de reformas internas e obras de adequação, o no Teatro do incêndio já recebeu eventos de cultura popular com Dona Anicide Toledo e o Samba de Umbigada, o Bale Folclórico de São Paulo, a Comunidade Jongueira de Tamandaré e o toré da Aldeia Wassu Cocal em Rodas de Conversa promovidas pela companhia. Também aconteceram aulas abertas com a bailarina Vera Passos e o espaço ainda recebe, atualmente, dois coletivos teatrais em residência artística, além dos projetos permanentes e gratuitos do grupo: Sol-Te, oficina livre de teatro para crianças e adolescentes, e Iluminar, oficina criativa de cenografia, figurinos e iluminação, coordenada pelo diretor convidado Kleber Montanheiro.

Ficha técnica

Texto e direção geral: Marcelo Marcus Fonseca
Figurinos: Gabriela Morato
Iluminação: Kleber Montanheiro
Direção musical e composições originais: Bisdré Santos e Marcelo Marcus Fonseca
Cenografia: Gabriela Morato e Marcelo Marcus Fonseca
Coreografias e preparação corporal: Gabriela Morato
Piso de cena: Jorge e Denis Produções Cenográficas
Coordenação: Jorge Ferreira Silva
Equipe técnica: Alicio Silva, Cleiton Willy, Deoclecio Alexandre, Vitor Caires e Murilo Manino
Criação e coordenação de adereços: Gabriela Morato
Assistência de figurinos e produção: Bianca Brandino
Confecção/adereços: Victor Castro, André Souza e jovens do projeto de Vivência Artística
Música ao vivo: Bisdré Santos e Vinibatucada Pinto
Música “Movimento dos Sem Chuva”: Cristóvão Gonçalves
Design gráfico: Gustavo Oliveira
Fotos: Giulia Martins
Assessoria de Imprensa: Verbena Comunicação
Produção e realização: Teatro do Incêndio

Elenco: Gabriela Morato, Elena Vago, Anderson Negreiro, Valcrez Siqueira, André Souza, Victor Castro e Marcelo Marcus Fonseca.

Jovens do projeto de Vivência Artística: Lia Benacon dos Santos, Bianca Brandino de Castro Assis, Lucas Galhardo Dantas, João Lucas dos Reis Gonçalves, Ellen da Costa Marins, Pedro Henrique Rocha Vieira, Hisadora Benevides de Oliveira, Thalía Melo Macedo, Julieta Guimarães, Antônio Carlos Soares Augusto, Mariana Cortez Lima Ribeiro, Raquel de Lacerda e Vinicius Santos Julião.

Serviço

Espetáculo: A Gente Submersa
Com: Cia Teatro do Incêndio
Estreia: 16 de setembro. Sábado, às 20h

Teatro do Incêndio
Rua Treze de Maio, 48 – Bela Vista/SP. Tel: (11) 2609 3730 / 2609 8561
Temporada: 16/9 a 10/12. Sábados (às 20h) e domingos (às 19h)
Duração: 120 min. Gênero: Tragicomédia musical. Classificação: 14 anos.
Ingressos: Pague quanto puder.
Capacidade: 95 lugares. Acessibilidade. Ar condicionado.


Cia. Teatro do Incêndio - História

O Teatro do Incêndio nasceu, em 1996, com a estreia de Baal – O Mito da Carne, de Bertolt Brecht, em uma antiga fundição de ferro no bairro de Pinheiros em São Paulo. A peça cumpriu uma história de 2 anos, com temporadas no Teatro Oficina, Oficina Cultural Oswald de Andrade e apresentações em 10 unidades do Sesc pelo interior e Sesc Vila Mariana. Em sua primeira formação, foi batizado de Teatroaostragos (como Canto do Bode) e mudou o nome para a encenação de Beatriz Cenci (Les Cenci), de Antonin Artaud, em 2000, na Funarte, em homenagem a trilogia de Roger Vitrac, companheiro de Artaud no Teatro Alfred Jarry.

O grupo tem como característica o mergulho em linguagens diversificadas e vanguardas históricas, construída ao longo de 21 anos de experimentações, sempre tendo como objetivo um estudo do ser humano encarcerado na engrenagem de uma civilização castradora, mantendo seu enfoque no cidadão afetado por valores artificiais criados pela sociedade.

Em sua trajetória, procurou dar voz a autores como Jean Genet (O Balcão – TBC, 1997), Bertolt Brecht, (A Boa Alma de Setsuan – Teatro Sérgio Cardoso, 2005, Na Selva das Cidades – Funarte, 2009, e Baal – O Mito da Carne), Antonin Artaud (Beatriz Cenci - Funarte, 2000), Marquês de Sade (A Filosofia na Alcova – Funarte, 1999), Friedrich Von Schiller (Joana D’Arc – A Virgem de Orleans – Bibi Ferreira, 2011), Zeno Wilde (Anjos de Guarde – TBC, 2001), além de peças de autoria própria, buscando sempre uma filosofia social capaz de estimular o pensamento divergente e despertar a atitude no espectador. Suas peças buscam a síntese do momento social, numa espécie de criação nômade, abrangendo mais de uma linguagem ao mesmo tempo e tendo a música ao vivo composta especialmente ou emprestada e relida como aliada importante nessa composição de ideias.

A atual fase do grupo teve início em 2011, após ser contemplado pela primeira vez pela Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, com o projeto São Paulo: Cidade Surrealista. O projeto contou com parceria do Museu da Língua Portuguesa para promover um curso sobre surrealismo, que culminou em dois espetáculos no ano de 2012, reabrindo a casa noturna Madame Satã e permanecendo em cartaz com São Paulo Surrealista e São Paulo Surrealista 2 – A Poesia Feita Espuma. Os espetáculos tiveram 3 temporadas e apresentações no interior, Sesc Piracicaba e outras cidades, além de ter tido em seu elenco 27 jovens oriundos de oficinas de treinamento do grupo na Oficina Oswald de Andrade por meio de ocupação artística do espaço. Ainda dentro do projeto realizou um ciclo de leituras de textos surrealistas na Funarte de onde surgiram duas montagens dos textos de Rene de Obaldia, A Baby Sitter (Sesc Pinheiros, 2013) e Fim de Curso (Teatro do Incêndio, 2013, e Sesc Piracicaba, 2014), traduzidas por Clara Carvalho e Claudio Willer.

Em 2013 inaugurou a sua primeira sede na Rua Santo Antônio, no Bixiga, mudando-se para a Rua da Consolação e, mais tarde, para a Rua 13 de Maio, 53. Em 2014, realizou o espetáculo O Pornosamba e a Bossa Nova Metafísica, (Teatro do Incêndio), experimento dedicado a memória da música brasileira, mesclando linguagens teatrais como expressionismo, realismo e dadaísmo. O espetáculo produzido com o apoio da sociedade civil por meio de plataforma online de financiamento coletivo, terminava na calçada da Rua da Consolação, 1219, antiga sede da Cia. à qual deixaria por uma desapropriação movida pela Linha 6 - Laranja do Metrô.

Em 2015, já na Rua 13 de Maio, estreia a peça Pano de Boca, de Fauzi Arap, recriando cenários e figurinos idealizados por Flávio Império para a montagem dirigida pelo autor, em 1976. O Espetáculo contemplado pelo PROAC Editais e pela 26ª edição do Programa de Fomento ao Teatro, inaugurou a nova sede da Cia, no Bixiga. Tal espetáculo integrou o evento Panorama: Teatro do Incêndio promovido pelo Sesc Bom Retiro.

Desde 2009, o Teatro do Incêndio passou a investir na formação e no exercício da vocação de jovens artistas, formando atores, iluminadores e técnicos em várias funções, tornando-se autossuficiente desde a área de produção até a sonoplastia. Hoje, em sua sede no Bixiga, realiza treinamento permanente de onde saem os espetáculos criados unicamente em sala de ensaio, estudando novas aplicações a técnicas conhecidas e procurando novas formas de expressão para seu repertório.

Ainda em 2014, a Cia., procurando intensificar seus laços com a cidade e o entorno do espaço, criou projetos permanentes, com duas turmas anuais: SOL-TE, projeto para integração de crianças e adolescentes da comunidade com as artes cênicas e outras artes e Iluminar, curso de formação de iluminadores e técnicos de luz.

Em uma oportunidade única, o grupo comprou o histórico casarão na Rua 13 de Maio, 48, esquina com a rua Santo Antônio, transferindo definitivamente suas atividades para uma sede própria. O Santo Dialético, em 2016, comemorou duas décadas de atividades ininterruptas em uma obra que apontava os caminhos do coletivo para um estudo da ancestralidade brasileira e um questionamento profundo da identidade e formação de nossa gente presente no cotidiano e questionando o que sobrou de nós diante do massacre de nossa essência.

Atualmente o grupo realiza em sua sede Rodas de Conversa com mestres da Cultura Tradicional Popular, oficinas de iluminação, cenografia e figurinos, oficinas para crianças e adolescentes e apresenta seu novo espetáculo, A Gente Subrmesa, primeira parte de dois espetáculos sobre a memória da cultura popular e expressões perdidas no tempo e na cidade. A segunda parte, Rebelião – Um Povo Oprimido, estreia em fevereiro de 2018.

O Teatro do Incêndio é um coletivo reconhecido pelo Conpresp, tombado como Patrimônio Cultural e Bem Imaterial da Cidade de São Paulo, e busca uma maneira de pensar a diversidade: o outro como meta. Mais que um grupo que faz teatro, considera uma ideia a ser mantida, dialogando com o nosso tempo enquanto ele acontece.


Assessoria de imprensa – Verbena Comunicação
Eliane Verbena e João Pedro
Tel.: (11) 2738-3209 / 99373-0181 – verbena@verbena.com.br


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