quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Consuelo de Paula abre sua "Casa"

Consuelo em click de Alessandra Fratus
Novo CD surpreende, acolhe e encanta!

Casa tem letras de Consuelo e melodias de Rubens Nogueira. Na instrumentação, a sonoridade da Orquestra à Base de Corda e nos arranjos, nomes como Dante Ozzetti, Weber Lopes, Chico Saraiva e Luiz Ribeiro.

A mineira Consuelo de Paula lança seu quinto CD, Casa. O disco é mais um trabalho primoroso que registra a parceria entre a cantora e compositora e o violonista Rubens Nogueira (1959 – 2012), iniciada com Dança das Rosas, em 2004. Rubens fez todas as melodias para as letras de Consuelo, que assina a concepção, direção e produção deste álbum.

A música de Consuelo de Paula chega muito bem amparada neste trabalho; ganhou nova moldura para mais uma vez surpreender até os ouvidos mais atentos. Todas as faixas têm o acompanhamento da orquestra curitibana À Base de Corda, formada por nove instrumentistas, conferindo ainda mais frescor para o personalíssimo trabalho da artista.

Surpresas vão permeando todo o CD. Cada canção, um toque, um tempero diferente. É que Consuelo convidou não apenas um arranjador para a “construção” de sua Casa: além de João Egashira, André Prodóssimo e Luís Otávio Almeida (integrantes da orquestra), os músicos Dante Ozzetti, Chico Saraiva, Weber Lopes e Luiz Ribeiro assinam os arranjos deste trabalho. São arranjos diferentes para conduzir com unidade a poesia e o canto de Consuelo.

A trajetória desta artista é marcada pela trilogia Samba, Seresta e Baião (1998), Tambor e Flor (2002) e Dança das Rosas (2004). Discos que consolidaram sua carreira como compositora e intérprete, conferindo-lhe respeito e reconhecimento pela musicalidade e sensibilidade, perpetuando sua arte na cultura brasileira. Após o período dedicado aos CDs citados, Consuelo lançou um livro de poemas e imagens - A Poesia dos Descuidos, em parceria com Lúcia Arrais Morales, em 2011 – e o DVD Negra, em outubro de 2011. Simultaneamente ao CD Casa, está sendo lançado o CD Negra, este somente na versão digital.

A cantora declara: “Casa é um recomeço após a trilogia, é a continuidade da minha obra agora com outra textura, um aprofundamento e ao mesmo tempo um vôo mais amplo”. Ela ainda explica que o DVD Negra foi um condutor para esta nova fase, aquecendo os caminhos para este CD. É inevitável considerar que ele mantém a mesma coerência e equilíbrio observado em toda sua arte: ritmos, melodias e poesias em perfeita harmonia.

Neste disco a mineira se apresenta com diálogos sensoriais, canto livre e pleno; registra seu afeto e admiração por Rubens Nogueira e a incalculável dor de sua perda: “Rubão traduzia em notas musicais a expressão contida na letra, por mais metafórica que fosse. Ele fazia a música certeira para elevar e respeitar a poesia. E fazia isso de forma genial”.

Consuelo tem outro álbum pronto para ser gravado. Das 13 canções, 11 são em parceria com Rubens Nogueira e duas são apenas dela. O trabalho já tem nome: O Tempo e o Branco.

As canções

Consuelo de Paula não se contenta em apenas montar uma sequência para o CD. Ela cria um enredo que recebe, acolhe e festeja o ouvinte, e dele se despede. Um roteiro que demonstra se tratar de um CD que realmente nos coloca dentro de um ambiente único. Abrindo o disco, “Convite” faz exatamente o chamado para que entremos na “roda” para brincar e aproveitar a festa que o disco vai propiciar. A música também reporta às suas raízes mineiras, para que não haja dúvidas. “O Rubens mandou uma melodia como sugestão e imediatamente eu soube o que seria não só esta letra, mas toda a obra”, conta. João Egashira assina esse arranjo orgânico e rico de uma incomum composição “em cinco”, e, como diz Consuelo, sem perder a dança.

O samba “Marinheiro” reafirma o convite à música de Consuelo, com arranjo brejeiro e faceiro, também de Egashira. A composição ganha molejo e cadência para a recepção – o cavaquinho de Julião Boêmio, a viola de Junior Bier e o violão de Hestevan Prado marcam o gingado irresistível desta música. Na terceira faixa, “Desafio”, o mineiro Weber Lopes assina o arranjo, que começa grandioso enaltecendo a música de Rubens Nogueira (em andamento 6x8), e a letra anuncia: “ramo de acácia / bailado de rio / canto trocado / feito desafio”, versos que nos conduzem ao passeio por esta obra, por esta Casa. O tema da próxima canção, “Notícias” (arranjo alegre de Chico Saraiva), brinca com o que pode vir pela frente e com o acolhimento: “coração de elefante dentro de mim”. E termina com um belo solo de bandolim de Rodrigo Simões.

“Borboleta” foi inspirada no poema Elegia a Uma Pequena Borboleta, de Cecília Meireles. “Esta faixa expressa bem o que o CD significa para mim e os vários sentidos que o título propõe”, confessa Consuelo de Paula. O arranjo para esta faixa - alma do disco – vem cheio de contrastes e deixa a canção sobrevoar; é arrojado e ritmado como o bater das asas das borboletas. Dante Ozzetti criou certa estranheza para a orquestração e a intérprete passeia com a poesia entre os contrapontos. Na sexta música, “Espera”, o arranjo sofisticado e delicado de Chico Saraiva valoriza a linda interpretação de Consuelo, que canta: “minha casa te espera, desde sempre...”. Esta canção cheia de afeto coloca o ouvinte no centro desta Casa.

Com arranjo coletivo da Orquestra À Base de Corda e de Consuelo, “Navegações” tem piano de Fábio Cardoso e batuque afro de Luís Rolim para falar do mar, de saudades e sentimentos. É a única música em que a orquestra não está completa, aqui soam apenas o piano, o baixo, o violão e a percussão . Em seguida, “Destino” é considerada pela cantora como a canção mais atávica e fluente deste CD. Com arranjo de André Prodóssimo, a letra trata de amorosidades e heranças com forte refrão: “amor de longe, amor de perto / meu coração tem rumo certo”. Destaque para o solo de violino de Helena Bel. E chegamos à faixa que nos conta sobre a cor que guiou o CD: “Azul” é repleta de simbologia e sintetiza bem o conceito do disco. É o tom que está presente em toda a obra e nos acompanha durante a audição. “O arranjo de Luiz Otávio Almeida dá movimento à música, como o próprio vento”, diz.

Um samba delicioso que muito bem combina com Consuelo: “Fé” é popular e traz uma gota de melancolia (Egashira novamente). Ela conta que fez o canto inicial desta faixa – “rosas pra senhora passar...” – e juntou a ele o texto que escreveu para a abertura da canção “Portela na Avenida” de seu CD Samba, Seresta e Baião - “a cor da santa é a mesma da folia num dia de carnaval”. Continuando o último bloco, inspirado no “Réquiem” de Mozart, o arranjo de Dante Ozzetti para o “Réquiem” de Rubens e Consuelo não poderia deixar de conter o dolorido tom da despedida. Mas, como tudo na obra desta artista (repleta de contrastes), aqui ela inicia falando de sol. E nos despedimos de Casa com “Estrela” (arranjo de Luiz Ribeiro), uma homenagem ao talento de Rubens Nogueira como compositor e instrumentista. É a derradeira melodia da obra que ele enviou para Consuelo: “esta melodia chegou a mim como um presente porque era inspirada em meus universos musicais, em minha casa, e agora retribuo apenas ouvindo-a, com a certeza de que o silêncio é outro poema acertado em nossa parceria”.

Lançamento de CD: Casa
Artista: Consuelo de Paula
Distribuição: Tratore
Preço sugerido: R$ 30,00
Mais informações: www.consuelodepaula.com.br
CD Negra: lançamento, formato digital
CD Tambor e flor (esgotado) - disponível em formato digital

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